Do passado ao presente: o conflito pela agenda econômica e política no governo Lula

Alexandre Cruz, jornalista Análise Política Hoje

 A esquerda, desde seus primórdios, se caracteriza por uma divisão interna sobre como alcançar o poder e como governá-lo. Essa dicotomia não é exclusiva do Brasil, sendo observada em outros contextos políticos ao redor do mundo, como na Espanha e no Partido Trabalhista da Inglaterra. Historicamente, a divisão entre mencheviques e bolcheviques exemplifica a luta interna pela condução do movimento, e, mesmo dentro do próprio grupo bolchevique, liderado por Lênin, havia disputas sobre os rumos da Revolução Russa.

 Essa divisão é inevitável, pois o método para conquistar o poder e a forma de governá-lo sempre foram temas de disputa. No caso do governo atual de Lula, que opera por meio de um presidencialismo de coalizão, o conflito interno é natural. A disputa pela agenda econômica, por exemplo, é um campo de embate constante. Embora o PT e o governo de Lula não sejam marxistas, é importante lembrar que, no passado, os marxistas se preparavam de maneira densa e detalhada para os conflitos internos e externos. Eles estavam conscientes dos inimigos, tanto internos (monarquistas, fascistas) quanto externos (potências imperiais europeias), que tentariam deslegitimar e ridicularizar suas ideias.

 Hoje, embora a comparação com os marxistas clássicos não seja exata, a essência da preparação política continua necessária. Lula e Fernando Haddad, ambos membros do PT, apresentam diferentes visões sobre a economia e a política, e é crucial que o restante da equipe do governo também esteja preparada para os desafios que surgem, tanto internos quanto externos. O governo enfrenta uma oposição forte, um Congresso com mais poderes e uma sociedade cada vez mais fragmentada, onde os costumes estão mudando rapidamente. As redes sociais, ao fortalecerem o individualismo e propagar fake news, agravam ainda mais esse cenário. 

 Essa dinâmica ficou clara no primeiro governo Lula, quando as disputas internas sobre a direção econômica e política do país foram intensas, com alianças que, em um dado momento, se inclinaram decisivamente para a esquerda. Um exemplo significativo disso foi a aprovação da PEC do Fundeb. Durante uma reunião no MEC, o então ministro Tarso Genro fez uma ameaça simbólica: se a PEC não fosse aprovada, ele deixaria o governo. A expectativa era que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, prevalecesse na disputa, mas, contrariando as apostas, Tarso se mostrou confiante de que o presidente Lula cederia à pressão. O resultado foi uma guinada clara à esquerda, quando o presidente vinculou receitas à educação, marcando uma decisão que configurou o rumo do governo. Esse acontecimento revela que, embora as disputas internas fossem intensas, a decisão central sobre a política econômica e social foi tomada pelo presidente, destacando o papel crucial de Lula como líder do governo!! 

 Outro episódio simbólico da disputa interna foi a negociação em torno do Prouni. Durante uma reunião tensa, Palocci confrontou Guido Mantega e Tarso Genro sobre o percentual de recursos destinados ao programa. Após uma negociação difícil, o presidente Lula cedeu e anunciou a versão do programa com 7% dos recursos, em vez dos 10% inicialmente discutidos. Contudo, em uma reviravolta, Palocci se ausentou da solenidade de lançamento do Prouni, deixando sua cadeira vazia — um ato que simbolizou o desconforto e a tensão entre as diferentes alas do governo.

 Esses episódios ilustram que a resignação diante desses desafios não é o caminho. Permanecer passivo diante da fragmentação do poder e das rápidas mudanças no cenário político atual é temerário. Para aqueles que ocupam o governo, a responsabilidade é ainda maior. Ser oposição pode ser difícil, mas ser governo exige mais preparação, análise e ação estratégica. Precisamos urgentemente de soluções, principalmente porque estamos no espaço de decisão — no governo, onde as mudanças reais podem ser feitas.

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